A tatuagem como símbolo de recomeço
Em Santo Tirso a arte pode ser utilizada de diversas formas, até mesmo para devolver a autoestima a quem teve cancro da mama.
Algumas doenças deixam marcas na vida, na memória e no corpo, mas a tinta e as agulhas de Guilherme Araújo podem fazer a diferença para quem o procura. O tatuador de 42 anos conta já com duas décadas de carreira e desde que abriu as portas do seu estúdio em Santo Tirso, trabalha não só para aqueles que querem ilustrar a pele com desenhos, mas também para sobreviventes de cancro da mama que pretendam recuperar a confiança e a autoestima.
Com muita sensibilidade, as formas femininas são redesenhadas, marcando uma história de luta e de vitória. “É sobretudo um desafio enorme e uma honra servir estas mulheres que tiveram as suas vidas invadidas por uma doença, algo tão sério que as deixou fragilizadas”, começou por dizer Guilherme enquanto tatuava o mamilo de uma cliente.
A sessão durou cerca de duas horas e as marcas da doença deram lugar a um desenho que não apresentava grande diferença face à aréola natural. No momento em que terminou, Carla levantou-se da marquesa e o seu olhar de esperança fez estremecer toda a sala. Foi-lhe diagnosticado cancro da mama há cerca de três anos e depois de um período preocupada apenas com a saúde, decidiu avançar para a recuperação estética. “Achei que estava na altura de tentar melhorar um bocadinho a minha aparência e sentir-me melhor comigo mesma”, conta.
Existem diferentes técnicas que podem ser utilizadas, sendo que o método mais comum são as cores e sombras para dar a impressão de relevo. “No caso da Carla não foi necessário, por ter-lhe sido implantado tecido para o exterior do peito que substitui e realça a forma mais natural do mamilo. Mas claro que há outros casos em que a zona está completamente lisa e aplica-se a um ligeiro efeito ótico”, explica Guilherme.
“Este foi mais um desafio superado e o mais gratificante é ver a autoestima destas mulheres a renovar-se quando olham para o espelho e se vêm, mais uma vez, completas”, reiterou ainda o tatuador.
Entre sorrisos, a mulher residente em São Martinho do Campo não escondeu a satisfação por ter recorrido a este procedimento, que vai muito para além da estética. É a capacidade de devolver a autoestima a quem já passou por momentos de dor profunda e que tem agora a esperança de viver um novo recomeço.