Coração a bater depressa, sensação de falta de ar, tonturas, visão desfocada, vontade de vomitar. Estes são os sintomas mais comuns de ansiedade, que pode não matar, mas mói e muito – tanto que é frequente as pessoas procurarem as urgências de um hospital, julgando estarem a ter um ataque cardíaco ou de asma.

 

Também é mais frequente tudo isto ser sentido logo ao acordar, sabe muito boa gente na pele. E a explicação para todo esse stresse pode ser simples – uma reunião decisiva, um assunto importante que ficou pendente da véspera, um exame académico.

 

Mas o que pensar quando a agenda aponta para um dia calmo e o coração acelera mal se abre os olhos? E o que fazer se essa ansiedade inexplicável surgir dia após dia, ao acordar?

 

As razões são várias, dizem os especialistas.

 

Para começar, parte da ansiedade pode dever-se ao cortisol (também chamado de hormona do stresse) que tem um pico quando acordamos. “Os níveis de cortisol basal no sangue são maiores de manhã; faz parte da ‘inicialização’ do cérebro, como um computador, após uma noite de sono”, explicou o psiquiatra Alex Dimitriu, especialista do sono e fundador da clínica Menlo Park, na Califórnia (EUA), ao The Huffington Post.

 

Esse um aumento do cortisol é, por isso, “totalmente normal”, sublinhou o mesmo especialista, porque a “inicialização” é crucial para sairmos do sono. Mas se juntarmos esse aumento da hormona do stresse a uma situação pré-existente de ansiedade, o nível de cortisol “pode atingir um pico ainda mais alto pela manhã”, alerta.

 

Outra possível razão para o stresse ao acordar são os hábitos de sono, diz Alex Dimitru. “O ritmo circadiano pode desempenhar um grande papel nos sintomas de ansiedade e pânico”, explica. A resposta ao stresse de “lutar ou fugir” descansa à noite enquanto dormimos, mas pode não descansar tanto em pessoas com níveis mais altos de ansiedade. “As nossas análises sugerem que pode haver uma inércia acumulada de stresse, que se estende noite dentro.”

 

É essa situação contínua de stresse que pode levar à sensação de pânico – o nível de ansiedade mais alto – ao acordar. Sobretudo no início da semana, já constatou o mesmo médico. “As manhãs, especialmente as segundas-feiras, são consideradas um momento de probabilidade particularmente alta de sofrer um ataque cardíaco pelo mesmo motivo.”

 

Alexa Dimitru compara a alteração dos padrões de sono entre o fim de semana e a semana ao jet lag. E esse jet lag, combinado com a chegada ao trabalho, leva a uma “maior probabilidade de eventos cardiovasculares adversos” de manhã, aponta um estudo publicado em 2018. “A ocorrência de derrame, enfarte do miocárdio e morte cardíaca súbita têm padrões diários, acontecendo com mais frequência de manhã”, lê-se na investigação liderada por Saurahb S. Thosar, do Instituto de Ciências da Saúde Ocupacional, em Oregon, nos Estados Unidos.

 

Por fim, os especialistas fazem notar que o estado da saúde mental também pode determinar a hora a que as pessoas se sentem ansiosas.

 

No caso de ansiedade social ou de transtorno obsessivo-compulsivo, o stresse matinal é mais frequente. Já uma pessoa que sofra de Perturbação de Stress Pós-Traumático (PSPT) tem tendência para sentir mais ansiedade à noite e à hora de deitar. Alguém que esteja a recuperar de um vício, é provável que sinta mais stresse nos momentos em que antes tinha o seu comportamento viciante.

 

Fonte: Visão