Portugal importa toneladas de lixo!
'É o caixote do lixo da europa', a frase é de Carmen Lima, da Associação Nacional de Conservação da Natureza, QUERCUS.
O nosso país, tal como muitos do terceiro mundo, importa lixo. Ao todo, em 2018, foram cerca de 2,544 milhões de toneladas. Entre o lixo remetido para o nosso país encontraram-se 331 mil quilos de resíduos perigosos. Entre o ano 2016 e 2017, por exemplo, Portugal terá importado milhares de quilos de amianto.
O pior é que, entre uma parte muito significativa desse lixo, está material perigoso e cancerígeno, afirma a QUERCUS, adiantado que é depositada em aterros sanitários, sem haver qualquer tipo de triagem.
A aquisição de excedente biológico e químico em Portugal terá a ver com a baixa taxa de gestão de resíduos, que se situa nos 9,90€ por tonelada. A média europeia é praticamente 10 vezes mais cara (!), rondando os 80€ por cada mil quilos.
A associação ambientalista “Zero” não revela grandes preocupações neste domínio, já que acredita tratarem-se de operações controladas. No entanto, a QUERCUS tem uma opinião completamente contrária. Segundo Carmen Lima, Coordenadora do Centro de Informação de Resíduos da QUERCUS, parece existir um lobby nos órgãos políticos e na comunicação social nacional para omitir este assunto.
“O destino que está a ser dado a estes resíduos é reposição em aterro e não é o tratamento”, afirma, adiantado que a importação de resíduos tem aumentado ao longo dos anos. “Nós estamos cada vez a ir buscar mais lá fora resíduos (…). Os aterros onde são depositados... a maior parte são privados”, teceu, frisando que tem sido feito com o aval do Governo, que permite estas operações.
QUAL FUTURO?
A QUERCUS, confessa-se preocupada com o tempo de vida dos aterros no nosso país. “Se nós continuarmos a importar resíduos e a depositar, nós vamos reduzir substancialmente o tempo de vida dos aterros e qualquer dia não temos sítios para depositar os nossos resíduos”, afirmou. O facto, no entender da especialista, poderá a levar à criação de ainda mais locais deste género em Portugal, sendo que o passo natural deverá ser a implementação de aterros sanitários em zonas progressivamente desertificadas, tal como no interior do país.
“A legislação comunitária diz que que os resíduos sanitários deverão ser encaminhados a nível de proximidade. Ou seja, o próprio país deve tentar dar um destino a esses resíduos, evitando a exportação. Isso não se está a verificar. Normalmente, o que acontece é que nós importamos aqueles resíduos que os países não têm destino. Geralmente são situações pontuais e muito específicas, mas não é isso que está a acontecer! Nós estamos a importar lixo de vários países da Europa!”. A vinda do lixo externo está a aumentar nos últimos anos. “Nós estamos a ficar um pouco preocupados. Eles não chegam para valorização, mas diretamente para deposição e aterro”.
O Governo terá ação, neste domínio, através da Agência Portuguesa do Ambiente. “Um processo de importação de resíduos requer um movimento transfronteiriço, ou seja exige um processo burocrático que é aprovado pela Agência Portuguesa do Ambiente que é tutelado pelo Governo”.
PROMESSAS NÃO CUMPRIDAS
De acordo ainda com a QUERCUS, o Ministro do Ambiente terá prometido que no início do ano este tipo de operações iria reduzir, mas “no porto de Leixões estão a entrar por semana 900 contentores marítimos carregados de lixo", afirmou Carmen Lima.
“Os números que temos analisado da Agência Portuguesa do Ambiente é que a importação tem aumentado nos últimos anos (…). Isto leva a crer que nós somos o caixote do lixo da Europa”, continua a coordenadora do Centro de Informações de Resíduos da QUERCUS. “Muitos países como a Itália não encaminham o lixo para os países vizinhos e estão a encaminhar para Portugal. Nós estamos a viabilizar isso devido aos preços baixos”, estando assim a “hipotecar o nosso futuro”, prosseguiu.
“Todos os partidos nas passadas eleições mostraram uma ‘bandeira verde’. Não houve partido em Portugal que não tivesse indicado no seu programa que não tinha preocupações ambientais. É pena é que essas preocupações ambientais não passem de demagogia... e depois, na prática, não mostrem essa preocupação. Esta situação já foi divulgada à comunicação social e o que nós temos verificado é que, como há aqui um interesse económico, porque estes aterros sanitários são privados, há uma sobreposição dos interesses financeiros e económicos às questões ambientais e sociais”, afirmou.
“Há um lobby silencioso” que a especialista acredita estar a contagiar transversalmente a sociedade. “A comunicação social não teve interesse em divulgar esta situação”, teceu. “Contactamos diversos jornalistas (…) e não houve interesse de nenhum jornalista em fazer um cobertura desta situação.”
Da maneira como as coisas estão a evoluir, para Carmen Lima, daqui a 5 ou 10 anos “estaremos preocupados sobre onde iremos instalar novos aterros (…) porque não demos um destino correto aos nossos resíduos”, disse.
“Nós estamos a importar plástico não para reciclar, nem para valorizar, mas para depositar em aterro”, fazendo com que este perdure no nosso subsolo durante centenas de anos.