Bebé vítima de covid-19 foi infetada em contexto familiar
A diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, afirmou, esta quarta-feira, em conferência de imprensa, que a bebé de quatro meses vítima de covid-19 foi infetada em contexto familiar e que já tinha "uma patologia de base muito grave".
Decorreu esta quarta-feira a habitual conferência de imprensa de atualização sobre a situação da pandemia de covid-19 em Portugal, com a presença da ministra da Saúde, Marta Temido, e da diretora-geral da Saúde, Graça Freitas.
"Há mais 58 casos ativos do que no dia anterior e alguns estão associados a surtos, dos 152 que há no país. Os 152 surtos têm a seguinte distribuição: são 44 na região Norte, seis na região Centro, 74 em Lisboa e Vale do Tejo, 15 no Alentejo e 13 no Algarve. A taxa de incidência nos últimos sete dias situa-se nos 14,4 novos casos por cem mil habitantes. O índice de transmissibilidade, o Rt, situa-se agora em 1,01%, abaixo do último apuramento, feito há dois dias", esclareceu a ministra.
Marta Temido informou ainda que uma das duas vítimas mortais nas últimas 24 horas é uma criança de quatro meses que estava internada no Hospital Dona Estefânia e que sofria de outras doenças e patologias. "Trata-se de um óbito que aconteceu no centro hospitalar de Lisboa Central", disse a ministra, acrescentando que a outra vítima mortal é um homem com 80 anos que faleceu "no centro hospitalar do Barreiro-Montijo".
Sobre a situação nos lares, a ministra da Saúde salientou uma "evolução positiva". "Há 2500 estruturas residenciais para idosos licenciadas e um conjunto de outras estruturas que não estão licenciadas, mas que o Governo acompanha. Desde o início de março que procuramos fazer um acompanhamento específico para estas unidades à luz da especial vulnerabilidade das pessoas que nela residem. Há ainda as unidades de internamento da rede nacional de cuidados continuados integrados. São dois universos distintos. Quando falamos em lares falamos em cerca de 1600 unidades e quando falamos de unidades da rede nacional de cuidados continuados integrados estamos a falar em cerca de 300 unidades", explicou Marta Temido, informando que, no total, há 563 utentes residentes que são casos positivos e 225 profissionais também positivos". Há neste momento 69 lares com casos positivos.
Quanto às visitas as lares, "estão a realizar-se e são um dos instrumentos fundamentais para que se possa perceber e antecipar problemas", afirmou a ministra, recordando que "até ao final deste mês está prevista a visita de técnicos de saúde e da segurança social a mais de mil destas entidades", em "função dos novos focos de preocupação".
Sobre a morte da bebé de quatro meses, a diretora-geral da Saúde esclareceu que "terá sido uma transmissão familiar". "A criança tinha uma patologia de base muito grave, uma cardiopatia congénita muito grave e que foi agravada pela covid-19, o que fez com que surgisse uma consequência amplamente descrita a nível mundial, uma miocardite. A causa da morte foi um choque sético", explicou Graça Freitas.
Acerca da Festa do Avante, a DGS está numa "ampla conversação" com os promotores e "elencou uma série de parâmetros que precisa de conhecer para se pronunciar e para que a entidade organizadora faça chegar documentos técnicos que permitam apreciar com rigor como está previsto que o evento decorra", afirmou Graça Freitas.
Relativamente à situação no hospital prisional de Caxias, a DGS informou que os casos positivos foram detetados no pessoal da cozinha, sendo que em dez testes realizados houve cinco casos positivos. Já foram realizados mais testes, mas ainda não são conhecidos os resultados, o que deve acontecer nas próximas horas, garantiu a diretora-geral da Saúde.
Graça Freitas referiu também que o plano para o Outono e Inverno está a ser preparado "há muitos meses", tendo sido já tomadas medidas preparatórias, que incluem a necessidade de orçamentos, por exemplo, como a compra de vacinas para a gripe. "Neste momento estamos na fase de consolidação do plano", explicou, apontando como grande desafio o facto de haver muita gente com sintomatologia respiratória aguda pelo novo coronavírus, gripe ou até mesmo por uma descompensação de doenças crónicas e que é "necessário distinguir". "O desafio do SNS é fazer um diagnóstico diferencial".
Na quinta-feira irão haver reuniões com Ordens profissionais relacionadas com a Saúde para as ouvir sobre o plano e para torná-lo mais "robusto, denso e mais abrangente".
Sobre o uso da máscara de uma forma mais alargada, Marta Temido lembrou que "o ministério está atento e que irá recolher a melhor informação técnica para tomar decisões". "Neste momento sabemos que há vários países que estão a fazer a avaliação do uso de máscara em todos os locais", apontou. "É uma estratégia em contínua evolução", completou a diretora-geral da Saúde, referindo que há cinco ou seis países do hemisfério Sul, onde agora é Inverno, que estão a ser avaliados para perceber como o coronavírus se comporta nestas circunstâncias.
Quanto a uma maior infeção entre pessoas com idades entre os 20 e os 40 anos, Graça Freitas lembra que isso pode ter a ver com questões de mobilidade e autonomia que faz com que estejam mais expostos, apesar de serem faixas etárias em que a gravidade não é tão grande.
Acerca da situação no lar de Reguengos de Monsaraz, a ministra afirmou que as responsabilidades que possam vir a ser apuradas sê-lo-ão em sede própria. "O Ministério, com os documentos que recebeu, acionou a sua estrutura inspetiva. Pedindo a avaliação das responsabilidades dos intervenientes na área da Saúde. É essa a nossa tutela", esclareceu.
"Existem várias informações e documentos que foram enviados ao ministério da Saúde desde o início do mês de agosto sobre o lar de Reguengos de Monsaraz. Um desses documentos é o que tem sido mais noticiado. Um outro é uma avaliação da linha cronológica realizada pela saúde pública regional. São estes os elementos documentais que instruíram a análise que foi feita pelo ministério e que determinou a decisão para remessa para as autoridades de inspeção de Saúde. O ministério não vai revelar estes documentos", disse Marta Temido, acrescentando que não serão feitos "mais comentários" sobre o tema.
Sobre a segunda vaga, a ministra realçou que a evolução da pandemia é distinta e que a "segunda fase de resposta pode não ser igual à primeira". "A nossa capacidade para retomar um confinamento total é bastante difícil de concretizar. E temos de apostar em respostas mais focadas e orientadas para o nível regional ou local", concluiu.
Em relação ao concelho de Mora, são 49 os casos conhecidos e há cinco pessoas internadas no Hospital de Évora. Em Montemor-o-Novo, há 28 casos, todos também com cadeias de transmissão conhecidas. Já foram testadas mais de 400 pessoas em Mora e mais de 250 em Montemor.
Relativamente à vacinação contra a gripe, vai ser "diferente este ano", disse Graça Freitas. A DGS pretende ter dois milhões de pessoas vacinadas antes de o Inverno, numa campanha diferente do que é habitual. "A primeira tranche chegará nos primeiros dias de outubro e será de mais de 300 mil doses e distribuiremos o mais rápido que conseguirmos para começar de imediato a vacinar o grupo prioritário, que são os idosos em lares e funcionários dessas estruturas que lidam com uma população vulnerável. Depois vamos fazer vacinação intensiva .A estratégia é a de à medida que vão chegando os lotes de vacinas, vacinar com o máximo de rapidez e escoar rapidamente todas as vacinas. Está a ser ponderado criar campanhas especiais de vacinação para acelerar o processo. Pode ser necessário criar estruturas próprias dedicadas à vacinação da gripe. Estamos num processo de consulta para ver da pertinência de criar estas estruturas excecionais", afirmou a diretora-geral da Saúde.
Em relação aos médicos e enfermeiros que trabalham em lares e em hospitais, Marta Temido recordou que "houve no início da pandemia uma grande preocupação de todas as entidades em evitar que os profissionais de saúde andassem de um lado para o outro", de forma a evitar um maior número de contágios.
Portugal regista esta quarta-feira mais dois óbitos por covid-19 e 253 novos casos de infeção. Conseguiram recuperar da doença mais 193 pessoas.
A Direção-Geral da Saúde contabiliza um total de 1786 mortes associadas à covid-19, desde o início da pandemia, em março, e 54701 casos confirmados de infeção. Até agora conseguiram recuperar da doença 40129 pessoas.
Fonte: JN
Foto: Artur Machado / Global Imagens