Macau e Coreia do Sul: O que temos que imitar dos 2 casos de sucesso?
Macau e Coreia do Sul. Dois casos de sucesso. Três palavras de ordem: prevenção, deteção, contenção.
Esta geração nunca tinha testemunhado um fenómeno global tão perturbador. Reina o caos nas ruas. Reina o caos nas mentes das pessoas. Mas, no meio do frenesim mediático há dois oásis no longo deserto que tem sido o surto do Covid-19.
A antiga colónia portuguesa de Macau, cidade sensivelmente com a população de Lisboa, conseguiu registar apenas 11 casos, dos quais não decorreram mortos. A cidade esteve até 1 mês sem registar qualquer caso, tendo o último sido trazido de Portugal.
A Santo Tirso TV, com base em notícias da Lusa e da Rádio Renascença, colecionou uma série de testemunhos sobre Macau e Coreia do Sul, esta última um caso de sucesso no abaixamento do crescimento exponencial de casos.
Máscaras?
Apesar da Direção Geral de Saúde apenas recomendar o uso de máscara para profissionais de saúde, pessoas infetadas e pessoas em contacto com outras infetadas pelo Covid-19, algo que é subscrito pela Organização Mundial de Saúde, possivelmente pela escassez deste bem, em Macau toda a gente se apressou em usá-las, instrumento que as terá ajudado a controlar a propagação do vírus.
“Numa doença destas, numa fase inicial não sei se estou infetado ou não. Não sei se tive algum contato, e se usar a máscara a possibilidade de transmitir a outras pessoas é menor. O problema é uso incorreto. Aqui houve um esforço para explicar como fazê-lo”, conta André Jegundo, jornalista na antiga colónia portuguesa.
"Se as medidas sem precedentes tomadas por Pequim não tivessem acontecido, Macau não estaria na situação em que está. Falamos de medidas, que segundo a Organização Mundial de Saúde, nenhum país na história adotou na resposta a um surto deste género", prossegue.
A vida em Macau, praticamente voltou ao normal, e a prova disso são os extensos relatos de portugueses à comunicação social. Mas a vida foi tensa durante duas semanas, em grande parte pelas medidas pedidas aos cidadãos.
A quarentena obrigatória e bastante precoce pelo período de duas semanas teve um papel fundamental nesse desenrolo. Mas houve mais... A suspensão do comércio e da liberdade de trânsito dos habitantes quer para dentro quer para fora da província evitaram a propagação de um vírus que muitos temem que possa ter as repercussões que teve há 100 a "Gripe espanhola".
A vitória, contudo, para o território, não pode ser já declarada. Ainda hoje, depois do Covid-19, um estrangeiro para entrar no território da antiga colónia portuguesa precisa de um visto especial, ficar em quarentena duas semanas num unidade hotelar dedicada ao efeito e submeter-se a exames, tudo por sua conta.
O poder económico da China e da província de Macau facilitou o controlo da pandemia e permitiu ao regime implementar as onerosas medidas de segurança necessárias. Em países mais pobres, sem apoio financeiro externo isso poderá ser praticamente impossível acarretar. É aqui, e por tratar-se de um problema global que tem repercussões não só sociais mais económicas, que todos os países tem que se debruçar.
"Pensamento comunitário"
O comportamento exemplar dos macaenses, um povo altamente movido por princípios comuns, foi outro aspeto do sucesso e que poderá ser difícil de replicar na Europa, onde as pessoas comummente têm mais liberdade individual e são mais movidas por ideais indivualistas.
"Não foi só na área da saúde, houve uma intervenção coordenada de todas as estruturas, desde a segurança interna, à economia, às finanças, e ao turismo", afirma o presidente da Associação de Médicos de Língua Portuguesa em Macau, José Manuel Esteves.
“Em Macau, tudo está interligado com os casinos e como consequência todo o comércio fechou. As pessoas não tinham para onde ir, e a isso somaram-se políticas muito ativas de teletrabalho nas grandes empresas de Macau, nomeadamente a CEM”, tece.
A fé inabalável no governo, também foi determinante. “Nunca faltou nada. As pessoas sempre acreditaram naquilo que lhes era dito”, explica o médico.
"COREIA DO SUL"
A Coreia do Sul, por seu turno, bastante abalada pela nova estirpe do Coronavírus, teve um alto índice de infeção no território, mas conseguiu num espaço de três dias reduzir para um terço os novos casos no país.
Dada a proximidade com a China e das relações comerciais com aquele país, a Coreia do Sul teve um estonteante número de 8000 casos registados na região. Mas, a esperança está a regressar ao país oriental.
"No dia 29 de fevereiro, a Coreia do Sul reportou 909 novos casos, o número mais alto desde a deteção dos primeiros doentes (...), mas um conjunto de medidas de contenção e mitigação conseguiu reduzir drasticamente a evolução da pandemia, apresentando 483 novos casos na passada sexta-feira, 367 no sábado e apenas 248 no domingo", pode ler-se num artigo da Lusa.
O segredo terá estado "no elevado número de testes realizados, muito cedo e em tempo recorde", informa Tina Park, especialista em epidemiologia do Centro Canadiano para a Responsabilidade de Proteção, atualmente a viver na Coreia do Sul.
"Cancelamento de eventos"
O Governo obrigou o cancelamento de todos os eventos que implicassem aglomerados elevados de pessoas, forçando os cidadãos a estarem em casa, sob pena de coerção e multas elevadas.
O Governo estimulou também o teletrabalho. "Detetar pacientes muito cedo é muito importante e aprendemos lições simples lidando com este vírus que é muito contagioso -- uma vez que surge, espalha-se muito rapidamente e em zonas geográficas muito alargadas", disse Neunghoo, para explicar a chave do aparente sucesso. "Se detetarmos quem transporta o vírus, podemos contê-lo", afirmou o ministro.
Balanço Global e Nacional
Atualmente o epicentro do Covid-19 é a Europa. A China está numa fase de redução drástica de aparecimento de novos casos e estará alegadamente a controlar a pandemia.
Em Portugal, sexta-feira da passada semana, houve 112 casos de Covid-19 . Sábado houve 169, domingo 245, e esta segunda-feira 331. O crescimento exponencial da propagação do vírus baixou de 51% para 45% e de ontem para hoje 35%.
Marcelo Rebelo de Sousa e o Governo deverão decidir se decretam Estado de Emergência quarta-feira.