Gronelândia perdeu 532 mil milhões de toneladas de gelo em 2019
Em média, camada de gelo da Gronelândia derramou três milhões de toneladas de água para o oceano todos os dias.
A enorme camada de gelo da Gronelândia registou uma perda recorde de 532 mil milhões de toneladas no ano passado, fazendo disparar os alarmes no que concerne ao aumento do nível do mar, de acordo com os resultados divulgados esta quinta-feira.
Esta perda equivale a mais três milhões de toneladas de água fluindo para os oceanos todos os dias, ou seja, seis piscinas olímpicas a cada segundo.
Glaciares em ruínas e torrentes de água derretida a cortar o bloco de gelo de dois a três quilómetros de espessura da Gronelândia foram a principal grande causa do aumento global do nível do mar em 2019, tendo sido responsáveis por 40 por cento do total, segundo investigadores no jornal Communications Earth & Environment.
A perda de massa do ano passado foi de pelo menos 15 por cento acima do recorde anterior, que remontava a 2012, mas ainda mais alarmantes são as tendências de longo prazo, disseram os investigadores.
"2019 e os outros quatro anos de maiores perdas de água ocorreram na última década", disse à AFP o autor principal Ingo Sasgen, glaciologista do Centro Helmholtze para a Investigação Polar e Marinha na Alemanha. Se toda a camada de gelo da Gronelândia derreter, os oceanos globais vão subir sete metros.
Mesmo uma subida mais modesta de alguns metros redesenharia os litorais de todo o mundo e tornaria inabitáveis as terras ocupadas hoje por centenas de milhões de pessoas.
Até 2000, o manto de gelo da Gronelândia - que cobria uma área três vezes superior ao tamanho de França - acumulou tanta massa quanto derramou. Por outras palavras, o escoamento foi compensado por uma nova nevasca.
Mas, nas últimas duas décadas, o ritmo crescente do aquecimento global alterou esse equilíbrio. A diferença está a aumentar em ambas as extremidades, de acordo com o estudo, que se baseia em quase 20 anos de dados de satélite.
A mudança dos padrões climáticos - também uma consequência das alterações climáticas - resultou em menos cobertura de nuvens e, portanto, menos neve. Esses sistemas de alta pressão também resultaram em mais dias ensolarados e mais quentes, acelerando a perda de massa.
Em 2019, o manto de gelo perdeu um total de 1,13 biliões de toneladas, com cerca de 45 por cento do gelo a deslizar para o mar, disse Sasgen. Por outro lado, ganhou cerca de 600 mil milhões de toneladas devido à precipitação.
Um estudo publicado na mesma revista na semana passada concluiu que o manto de gelo da Gronelândia ultrapassou um "ponto de inflexão" e agora está condenado a desintegrar-se, embora ainda se desconheça quanto tempo vai demorar até tal suceder.
Sasgen diz que é muito cedo para saber se atingimos um ponto sem retorno, mas concorda que a camada de gelo provavelmente continuará a perder massa, mesmo em anos mais frios. "Mas isso não significa que tentar limitar o aquecimento não importe", acrescentou.
"Cada grau decimal que se economizar em termos de aquecimento vai economizar uma certa quantidade de aumento do nível do mar - tanto em magnitude quanto em velocidade", salientou.
Os especialistas não envolvidos na investigação não ficaram surpreendidos com os resultados, mas expressaram preocupação. "A camada de gelo perdeu gelo todos os anos nos últimos 20 anos", disse Twila Moon, um cientista da Universidade do Colorado. "Se o alarme de todos já não estava a tocar, devem estar a tocar agora", acrescentou.
Stuart Cunningham, oceanógrafo da Scottish Association for Marine Science, alertou sobre o potencial impacto na circulação do Atlântico Norte, uma corrente que mantém o noroeste da Europa cinco a dez graus Celsius mais quente que latitudes semelhantes em outras partes do globo. "Modelos climáticos mostram que essa circulação pode ser desligada ao adicionar água doce ao Atlântico Norte", disse, observando que isso aconteceu durante o final da última era do gelo. "Este ponto de inflexão no sistema climático é um dos potenciais desastres que enfrentamos", frisou.
Entre 1992 a 2018, a Gronelândia perdeu cerca de quatro mil milhões de toneladas de massa, fazendo com que o nível médio do mar subisse 11 milímetros, de acordo com um estudo de dezembro de 2019 publicado na Nature .