
Jornal de Santo Thyrso: jornal histórico pode fechar
Dificuldades financeiras podem ditar o fim de um dos jornais mais antigos do país.
A porta do Jornal de Santo Thyrso pode estar prestes a bater definitivamente. É uma porta que guarda a cultura e a história de um povo.
Fundado por José Bento Correia, com o primeiro número a sair a 11 de maio de 1882, o Jornal de Santo Thyrso é um dos mais antigos de Portugal, apresentando um impressionante espólio sobre as histórias que se relataram no decorrer dos anos. Agora, muitas histórias poderão ficar por contar.
Há relatos do despedimento de vários trabalhadores e especula-se que não resta um colaborador no Jornal de Santo Thyrso.
“Neste momento, estamos em período de reflexão”, realça Victor Borges, diretor do semanário, acrescentando ainda que “se está a fazer um estudo económico para se poder constatar se é economicamente fiável continuar com o projeto”.
O Jornal de Santo Thyrso esteve presente nos acontecimentos marcantes do país e de cariz mundial, afirmando-se como fonte segura sobre os mais variados assuntos históricos. No simples ato de desfolhar as folhas do até agora resistente dinossauro tirsense pode-se viajar ao passado sem sair do lugar.
“Era uma grande ajuda se arranjássemos mais apoios. Não somos apenas um meio de comunicação, somos um veículo de preservação da cultura e da história de um povo. Não se devia deixar isto cair”, explica Victor Borges.
No entanto, os problemas financeiros podem ditar mesmo um fim trágico para o jornal tirsense nestes tempos em que o jornalismo enfrenta uma crise sem precedentes.
A Era Digital
Para Victor Borges não há dúvidas. A Era Digital poderá ter vindo maltratar certos órgãos de comunicação. Apesar das diversas vantagens que o acesso rápido à informação pode oferecer, o Jornal de Santo Thyrso ressentiu-se nesse modelo.
“Havia certos documentos, certas publicidades que eram obrigatórias estarem presentes no jornal. Agora é tudo posto na internet, impossibilitando o papel de sobreviver”, lamenta o diretor do semanário.
Uma situação que se tem vindo a anunciar durante algum tempo: “É impossível manter um jornal que dá prejuízo. Para muitas pessoas pode não significar nada, mas torna-se frustrante não obter lucros”, considera Victor Borges
Uma perda irreparável
O semanário, o décimo mais antigo do país, contou com textos de figuras como João de Deus ou Camilo Castelo Branco e em 2017, no âmbito do Ano Português da Imprensa, a publicação esteve representada, juntamente com outros 24 jornais centenários, na condecoração da Associação Portuguesa de Imprensa como Membro Honorário da Ordem de Mérito.
“Se o encerramento se vier a concretizar, vai-se traduzir numa perda irreparável” destaca o diretor da publicação. Francisco Carneiro, sócio-gerente do jornal, assume, no entanto, que eventualmente “poderão haver perspetivas de futuro”, adiantando que se está a fazer “um esforço para se encontrar apoios, através de pessoas amigas de Santo Tirso” para que se possa continuar com este dever de informar.
O Jornal de Santo Thyrso encontra-se parado e ao que tudo indica, se ninguém intervir, pode deixar nove funcionários no desemprego.
Qual será o futuro para este que é um dos mais fortes símbolos da cidade? O pessimismo parece reinar na gerência e na redação. "Aniversário do Jornal de Santo Thyrso foi comemorado (sem festa) no passado sábado, 11 de maio", lê-se na última capa do jornal. "Não resistiu ao peso da idade e sucumbiu", pode ver-se num comentário do gestor da página oficial do jornal.