“Carpe Diem” Bar – 30 anos que simplesmente não se esquecem
O espaço criado entre em 1990, para oferecer um refúgio alternativo para todos os amantes de música, está a comemorar, desde o dia 17 de dezembro, o seu 30º aniversário. As celebrações duram até 31 de janeiro.
Para comemorar a efeméride, aquele que tem vindo a ser um espaço eclético e marcante para várias gerações, realiza uma série de concertos, sessões de Cinema, Palestras e DJ Sets.
No que diz respeito à música, “Palankalama”, “O Triunfo dos Acéfalos”, “Chulada da Ponte Velha”, “Francisco Moreira”, “Estilhaços”, “Nu” e uma Jam Session estão no programa oficial e têm proporcionado a todos os interessados uma vasta gama de opções musicais para todos os gostos.
Já os DJ’s convidados foram Miguel, Scotch, Teresa & Ren, Nuno Rabino, Liquid Skin, Manel Neto, Alínea A, Mica, Heartbeat, Russa, José Magalhães, e El Patron.
Nos filmes exibidos, constam no programa: “Zé Pedro Rock N’ Roll”,“Punk Is Not Daddy”, “Os Filhos do Tédio”, “A Vida Dura Muito Pouco” e “Phil Mendrix”.
3 HOMENS CHAMADOS "MIGUEL"
O “Carpe Diem”, tem-se notabilizado aliás nos últimos anos, por apresentar um verdadeiro programa de cinema digno de um cineclube. O feito está a ser levado a cabo por 3 rapazes chamados “Miguel”. Sim, pode parecer piada, mas leu bem, trata-se de um coletivo de 3 homens exatamente com o mesmo nome, um deles que está sempre vestido de pijama. “Mas energia não lhe falta” comenta um amigo...
Esta imagem representa perfeitamente o Bar. Deve ser o espaço com mais diversidade musical e social no concelho. “É provavelmente o único espaço no concelho onde consegues ver um bancário a falar com um freak” caracteriza Miguel Dias, (outro Miguel... desta vez que nada tem a ver com a associação) e ex jornalista da Santo Tirso TV.
Uma visita rápida a altas horas da noite convence qualquer pessoa da frase. Entre indigentes de toda a índole, veem-se mulheres e homens feitos, normalizados, a relembrarem-se dos seus tempos de juventude e a ouvirem os seus temas favoritos, enquanto convivem com jovens que não se limitam a uma era musical para agitar os braços e as pernas, num intercâmbio cultural que não olha a cores, estilos de roupa e preferências. É essa a diversidade que o “Carpe Diem” celebra, não fosse o seu proprietário um amante da mundividência.
UM PARTO FÁCIL
Segundo José Costa, proprietário do Bar, “A dois dias da passagem de ano percebemos que não tínhamos programado o nosso destino pessoal para a noite, então e com as obras quase prontas, decidimos abrir na passagem de ano de 90/91. E assim nasceu o Carpe Diem bar em Santo Tirso, com uma atitude e conceito declaradamente marginal em relação ao instituído na altura. Sem divulgação , já que só na primeira semana de janeiro foi produzida, acho que só nós, os sócios, e o Manel Santarém (que ainda hoje é cliente diário) desfrutámos do novo espaço”, afirma.
“O percurso até hoje, como é mais ou menos natural nestas longevidades foi de altos e baixos, mas nunca os baixos foram suficientemente fundos para extinguir a ideia base de funcionamento do espaço, nem os altos demasiado "píncaros" ao ponto de deixarmos o vil "carcanhol" desviar-nos do nosso caminho”, graceja.
“Assim, na primeira década e enquanto se multiplicavam os clientes que saiam de sorriso de orelha a orelha para o Porto com cada vez mais regulares concertos no coliseu (Pixies, Nick Cave, Iggy Pop, Tindersticks, etc), fomos produzindo e criando base em iniciativas como uma noite em modo festival no cinema da Vila das Aves, um festival de 4 dias numa tenda de circo na cidade com nomes como Mão Morta, Pedro Abrunhosa e Jorge Palma, num total de 21 Artistas, ao mesmo tempo que íamos programando concertos noutros bares”, refere o proprietário e que é também baterista da mítica banda tirsense, “Ecos da Cave”.
“Dentro de portas, por seu turno, era a descoberta de uma imensa família que adotava o Carpe Diem como um sítio seu, de tal forma que eram comuns as multas em cujos relatórios policiais constava inevitavelmente a descrição: "eram muitos, cantavam e dançavam". Sim, claro que se havia a multa era por alguma razão, talvez a hora, quem sabe... Em 2000 o espaço físico cresce e a programação de concertos e djs ganha protagonismo, materializando-se num sem número de apresentações de largo espectro musical - da pop, hip-hop, rock ou folk até à música experimental e minimal.
As festas temáticas prosseguem e as noites de cósmica dança vão ficando nas memórias de muitos dos nossos clientes e amigos. A colectividade que desde a primeira hora se formou vai desenvolvendo-se em em concertos "púbicos", em barulho de cartas, em mostras de BD e de curtas-metragens, em associações como a Act, etc. O Carpe Diem passa a ser, perante a passividade e desinteresse das instituições públicas, a sede de muitas ideias da chamada "sociedade civil".
O bar passou e ainda está a passar por dificuldades por conta da pandemia, mas isso não foi suficiente para demover a sede de José Costa de oferecer um espaço cultural de relevo no concelho. Só no decorrer do Covid e após a permissão para a abertura de portas, Tó Trips, Putan Club e Fernando Barroso foram alguns dos músicos convidados.
“Entre o fecha que não dá, abre mas só de manhã, sim, resistimos e programámos um plano mensal de comemorações que começa em 19 de Dezembro e se prolonga até 20 de janeiro de 2021, esperando que este seja possível dentro destas contingências comum a todos nós e que a semente lançada este ano nos permita começar a concretizar a nossa visão de uma versão 3.0 do Carpe Diem”, finaliza José Costa.
Texto e Imagem: Stephane Oliveira