Ainda se lembra do mIRC?
Primeira rede social revolucionou uma era e marcou para sempre a geração dos "Millennials".
/Nickserv identify (inserir palavra-passe)
/join #Santotirso (ou outro canal favorito)
Assim começava a jornada de muitas pessoas quando chegavam a casa, ainda os modems de 56K funcionavam através de linha telefónica, emitindo estranhos ruídos.
Quando o mIRC foi inventado por Khaled Mardam-Bey, um programador britânico nascido na Jordânia, estávamos no ano de 1995 e a internet só existia há 4 anos para as pessoas comuns. Aquilo que nasceu como um projeto para uma cadeira de Ciência Cognitiva, aos poucos, tornou-se num verdadeiro fenómeno global, ligando pessoas de todo o mundo, por mais longe que estivessem.
Ainda hoje o impacto desse programa tem repercussões nas nossas vidas. Os smileys nasceram lá, mas não só, também muita da gíria que é usada atualmente nos chats de conversa, como por exemplo no facebook, whatsapp e instagram, surgiu primeiro no mIRC.
Expressões e abreviaturas como "Tá td?", "lol", "wtf" e muitas palavrões, que, por motivos óbvios não poderemos elencar aqui, apareceram lá e ajudaram a gerar um fluxo de informação global de larga escala, onde, de repente, os media tradicionais já não faziam parte.
Na altura, esta "rede social" possibilitou fortalecer laços, criar muitas amizades entre pessoas que nem sequer se conheciam e até proporcionar encontros entre casais que eventualmente se casariam. Quase todos conhecemos pessoas assim.
Ideias, fotos, frases, músicas - o admirável mundo da troca da informação foi possibilitado pelo mIRC. Formatos como o mp3, mp4, generalizaram-se e possibilitaram a troca de conteúdos a uma escala que nunca antes havia sido vista. Mas nem tudo foram rosas nesta nova forma de comunicar controlada pela base da pirâmide. Também surgiram problemas como o risco de perda de privacidade e a pirataria de conteúdos com direitos autorais.
É um bocado complicado entender o que levou ao declínio do mIRC, mas talvez se tenha devido ao aparecimento de sites como o hi5 e Orkut, e a programas como o Messenger, que começaram a apresentar um layout mais rebuscado, por oposição ao desenho muito simplista do mIRC.
O golpe final seria mesmo o aparecimento do Facebook.
Hoje o mIRC ainda existe, apesar de ter poucos utilizadores. O programa continua a usar o seu design simples, com acesso a chats de grupo e individuais e a mesma hierarquia de comando das conversas, com OP's (operadores chefe) que podem chegar até vários níveis (de 1 a 15) e Voices (submoderatores).
Todos os canais são designados com um cardinal antes do nome. Agora são bem menos do que antigamente. Para se ter uma noção, o canal #santotirso, outrora bastante utilizado não tinha ninguém. Ao ponto de quando o visitarmos termos sido imediatamente elevados a "administradores".
Foi preciso entrarmos no canal #music para encontrarmos mais de 50 pessoas. E, mesmo assim, a nossa conversa no mIRC foi um pouco parca. Encontramos pessoas como nós, que apenas estavam lá um pouco com um espírito voyeur, ou curioso após um hiato de umas décadas, mas também encontramos pessoas que usam o protocolo IRC para trabalhar.
"donalhunt[m]" é a alcunha virtual de um programador que usa o IRC com os seus clientes. E elenca alguns motivos: a rede é leve, segura, simples e mais prática para a transmissão de texto puro e duro.
A opinião é partilhada por "Notlikethesoup" que também usa a rede com o propósito de trabalhar. O Facebook e as outras redes são mais práticas para partilhar "memes e vídeos de gatinhos", brinca um dos utilizadores.
Será que um dia o mIRC terá um movimento revivalista?