Mais de 30% da comida do planeta é desperdiçada
Um terço da comida mundial é desperdiçada. A informação foi ontem veiculada pelo Diário de Notícias. Isto acontece num planeta onde sensivelmente 820 milhões de pessoas não tem comida.
Para se ter a ideia da magnitude deste problema, 820 milhões de pessoas sem comida suficiente para sobreviver equivale a 80 vezes o número de habitantes em Portugal.
Em termos percentuais, os países mais afetados por este problema são o Sudão do Sul (64% das pessoas a passar fome) Síria (63%), Yemen (53%) Afeganistão (43%), Haiti (38%), Venezuela (33%), Congo (21%).
Mas, para além das quase mil milhões de pessoas a passar fome, existem ainda mais de dois mil milhões de pessoas em situação de má nutrição e insegurança alimentar. Os principais fatores que contribuem para a causa são problemas climáticos, doenças, pragas, instabilidade política e conflitos armados. A estes problemas acresceram ainda a recente crise social e económica provocada pela Covid. Para além disso, uma percentagem significativa das pessoas no ocidente, ingere mais calorias do que aquelas que deveria e há uma gestão desequilibrada dos recursos no globo fruto das desigualdades económicas.
Objetivo complicado de atingir
A ONU propôs-se a acabar com a fome em 2030, objetivo que parece longe de ser logrado, já que o número de pessoas a passar fome tem vindo a estagnar e nalguns casos a aumentar nos últimos anos. Isto numa altura em que se estima que o planeta chegue aos 10 mil milhões de habitantes em 2050, mais 2 mil milhões do que os que a Terra atualmente alberga. Alguns especialistas acreditam que o planeta não terá já recursos suficientes para todas os seus habitantes. O dia de rutura terá sido 29 de julho deste ano.
De acordo com um relatório da UNEP - Programa Ambiental das Nações Unidas, o mundo, já produz alimentos suficientes para 10 mil milhões de pessoas. Contudo, noticia o Diário de Notícias, “cerca de 17% desta produção é perdida. A perda e o desperdício alimentar, no seu conjunto, chegam a atingir um terço dos alimentos gerados em todo o planeta”.
O artigo da autoria de Helena Peralta, prossegue: “Os números são astronómicos: são mais de 1,3 mil milhões de toneladas de alimentos perdidos e desperdiçados, num custo estimado de 2,3 biliões de dólares americanos (cerca de 2 biliões milhões de euros). Mas desengane-se se pensa que apenas os países mais ricos contribuem para esta perda: (...) a percentagem é idêntica nas zonas de maior rendimento e nas de baixo rendimento. A única diferença é que nos países mais ricos este desperdício está no fim da cadeia de valor, no consumidor, e nos países mais pobres a perda está ao nível produção, junto dos pequenos produtores agrícolas, que não conseguem (...) salvar colheitas ou canalizá-las corretamente para o consumo. O relatório da UNEP revela que, em média, são desperdiçados 74 quilogramas per capita de alimentos, anualmente, de forma semelhante entre países mais ricos e países mais pobres, havendo muita margem para melhorias”.
Algumas soluções estão a ser pensadas para resolver a questão da sustentabilidade alimentar, algumas menos radicais que envolvem terminar com o desperdício no setor retalhista e da restauração, alternativas que propõem um uso de uma dieta mais à base da ingestão de leguminosas, fazer plantações verticais (em altura) em ambientes urbanos. Mas, já se pensa até em algumas medidas mais drásticas, tais como apostar na produção de carne artificial, prática aceite na Singapura, e que têm tido o apoio de alguns empreendedores, tal como Bill Gates, empresário na área da Saúde e que estará também envolvido nesta indústria (é o maior proprietário de propriedades agrícolas nos Estados Unidos com cerca de 100 mil hectares)
A grande mudança substancial que a população poderá ter de enfrentar é deixar de ingerir tanta carne bovina que é responsável por uma grande parte das emissões de carbono e a razão do atual e insustentável gasto dos recursos hídricos.
"Reduzir o desperdício alimentar é meio caminho para solucionar o problema dos alimentos no mundo, mas também é fundamental transformar os sistemas alimentares e fazer a transição para dietas mais saudáveis, que, como vimos, implica profundas mudanças no mundo. O consumo global de frutas, vegetais, oleaginosas e legumes terão de duplicar e o consumo de carnes vermelhas e do açúcar deverão ser reduzidos em 50%, apontam os estudos da FAO", pode ler-se no artigo do "Diário de Notícias".
"Produzir com impacto mais reduzido é, pois, uma exigência para a sustentabilidade do planeta. Para isso, temos de ter uma alimentação mais centrada nos vegetais e reduzir a quantidade de proteína animal, pois, quanto mais acima na cadeia alimentar, maior a quantidade de recursos necessários para a sua produção.
"Era importante que os países mais desenvolvidos obedecessem à roda dos alimentos. A nossa balança alimentar mostra que os portugueses consomem três vezes mais proteína animal do que aquela que é recomendada", afirma Susana Fonseca. Para esta responsável é fundamental que, em Portugal, se siga mais a dieta mediterrânica, onde a proteína animal também é reduzida e as leguminosas são uma boa fonte de proteína, que podem ser produzidas localmente.
"Cerca de 60% da área agrícola no mundo está a ser usada para a produção animal, seja para pastagens seja para a produção do alimento para o gado", explica. Um dos problemas que esta especialista levanta sobre o excesso de consumo de carne - que acaba por levar, muitas vezes, também ao desperdício - tem a ver com os preços de produção, que não são os custos reais [para o planeta]. Ou seja, o preço baixo da carne, por vezes ainda alvo de promoções nas grandes superfícies, acaba por incentivar o seu consumo excessivo.
Adotar uma alimentação com base em insetos também poderá ser parte da solução. Leu bem.
Segundo o DN, “a UE aprovou recentemente a comercialização da primeira farinha de larvas de escaravelho, a farinha de tenébrio, também conhecida como farinha amarela, para consumo humano, e insere-se na estratégia europeia "Do Prado ao Prato", no sentido de fazer a transição para sistemas alimentares mais sustentáveis. Em Portugal há já empresas a produzir alimentos, como snacks e barras proteicas, a partir de insetos.”
Os atuais sistemas financeiros que se baseiam na lei da oferta e da procura tem falhado no controlo desta problemática. Na União Europeia, por exemplo, leite tem vindo a ser incinerado às toneladas desde 1984.
Outros especialistas acreditam que se deveria fazer um controlo mais apertado do crescimento natural da população, adotando medidas de planeamento familiar, e até nalguns casos de esterilização. A China durante muito tempo teve a política do "filho único" que obrigava os habitantes daquele país a não terem mais do que um filho. Atualmente cada casal chinês já pode ter duas crianças.